sábado, 25 de junho de 2011

Virtudes

Era um dia lindo de outono, as folhas caíam e pintavam a paisagem de um vermelho escuro quase marrom, o sol agora se escondia atrás das colinas, a luminosidade do dia estava por invadir o emaranhado de ruas daquela pequena cidade - o nome não mais importa. Lembro-me que os meus pés lutavam contra a caminhada, as bolhas agora se tornaram feridas muito profundas na minha carne, lacerados ainda esperavam o fim da jornada, que desta vez não estava muio longe.
O único amigo que já possui trazia junto de mim. Nas minhas costas, ia pendurado, James sempre me fizera companhia, desde os acordes arranhados do blues do Texas, até os versos desengonçados e desprovidos de rimas do folk de Minnesota. Agora já estava arranhado, e marcado por toda uma vida que dediquei somente à música.
Aos poucos fui aprendendo a importância de me manter longe da ignorância, e com James ao meu lado, fui aprendendo as virtudes e os males da vida. Me aprofundei nas artes da música, e Deus sabe como eu passei a amá-la. Toquei de tudo, do MPB de Copacabana até o Jazz de Nova Orleans.
Com todos os quilômetros de caminhada, com cada passo amortecido pela vontade, tentei fazer o melhor que pude, como músico, e como pessoa. Tentei viver com menos arrependimento quanto pude, mas infelizmente a minha natureza não permite isso.
Durante toda a minha vida eu vi as cores, apreciei cada som da natureza, toquei toda música que emergia do interior do meu coração, aprendi a amar e a perdoar inimizades, o mundo foi muito bom comigo...
Ia ensaiando a minha última música naquele lindo cenário montanhoso, uma última canção de agradecimento. James como sempre não me desapontara, suas cordas velhas e cansadas estavam mais afinadas do que nunca. Meus dedos iam dançando nos acidentes, cada sustenido me levava para mais longe desse mundo onde fui concebido.
Foi ali onde eu deixei o meu alento, não posso ser egoísta e chamar de "meu legado". Eu já fui muitas coisas nesse mundo, já fui nômade, já fui mendigo, já fui andarilho, mas eu nunca deixei de ser apaixonado. E por isso, sou eternamente grato.

Um comentário:

  1. Desculpa o vocabulário, mas a primeira palavra que me veio a mente depois de ler este texto foi: Puta que pariu!
    Me prendeu do início ao fim!
    Ganhou uma seguidora!

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