O ônibus hoje estava vazio. Há muito tempo eu não pego o ônibus das 06h05min.
Alguns rostos familiares, outros não. Dos que me lembro, poucos mantém algum tipo de relacionamento comigo, o que é uma pena.
As expressões me traziam algum tipo de alegria estranha, acho que talvez felicidade, por estar vivo, pronto para começar tudo outra vez, feliz por poder levantar, com certeza com a permissão Divina.
O frio era de tremer a espinha. Ficava difícil equilibrar-se. A barra onde me seguro como de costume se tornou insuportável de tocar. Se bem me lembro, tive de cobrir a mão para segurá-la.
Ainda me lembro daquela menina, sentada no último banco, devia ter seus dez ou doze anos, olhos verdes como uma esmeralda, o cabelo era um loiro escuro, um tom que me lembra a cor do mel. Aquela menina, sentada no último banco, lia um livro, não só um livro, mas uma das maiores obras do classicismo. Aquela menina me trouxe espanto, e ao mesmo tempo alegria. Espanto por ser tão jovem, e ainda assim lendo esta magnífica obra de arte. Como será que se despertou esse interesse? Tive alegria por perceber que a nova geração ainda pode salvar o mundo da escuridão que é a ignorância.
Será que terei a felicidade de daqui à cem ou duzentos anos, alguém por espontânea vontade, ler isto que escrevo à caminho do trabalho?
Enquanto me preparo para dar o sinal para o motorista, descubro a mão, percebo a dificuldade de sentir os dedos, penso no que farei hoje, certo de que terei momentos bons, e momentos ruins, só me resta esperar. Não tão ansioso. Gostaria de estar dormindo. Mas a vida é uma constante labuta.
06h19min, eu desço do ônibus, e sigo sempre de cabeça erguida, para desafiar o cotidiano.
É uma pena as pessoas de hoje em dia não se importarem tanto com a leitura! Meu avô dizia que nós somos o que escrevemos e lemos, eeentão o que é a juventude de hoje em dia? hm
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